Compromisso e Solidariedade: Reflexão de D. José Traquina para a Semana Nacional Cáritas
CÁRITAS, O AMOR QUE TRANSFORMA EM TEMPO DE JUBILEU
Na sociedade em que vivemos, emergem diversas situações de pessoas e famílias que necessitam de respostas de apoio. No desejo de uma sociedade mais justa e melhor, não é suficiente responsabilizar, por todas as soluções, os que assumem cargos políticos. Como membros da sociedade, podemos e devemos fazer parte da solução. Além disso, como cristãos, não é apenas um imperativo ético, mas também uma questão de fidelidade ao Evangelho. Não podemos viver com distanciamento, desinteresse ou indiferença para com a realidade social a que pertencemos.
Existem pessoas pobres que, todavia, sentem felicidade na vida porque se amam e respeitam. Em sentido contrário, a violência entre pessoas em diversos ambientes, incluindo o familiar, é um problema que tem a vindo a acentuar-se. A violência e a falta de qualidade nos relacionamentos humanos geram pessoas infelizes e fazem aumentar a pobreza. Os outros não são o inferno. O inferno é a pessoa existir sem amor por nada nem ninguém, sem nenhuma causa justa que dê sentido à sua vida.
Relativamente aos jovens, é importante que promovam boas experiências de aplicação da sua generosidade e cresçam na alegria da promoção do bem comum. É de salientar o interesse de jovens pela missão da Cáritas e, neste sentido, a ‘Cáritas Jovem’ é já uma realidade em algumas Dioceses.
A rede Cáritas é constituída, em Portugal, por vinte Cáritas Diocesanas, unidas na Cáritas Portuguesa, e inúmeros grupos locais que atuam em proximidade, nas paróquias e comunidades. Tem como missão o Desenvolvimento Humano Integral e a defesa do Bem-Comum intervindo em ordem à transformação da sociedade. Através da animação da Pastoral Social fomenta a partilha de bens e a assistência em situações de calamidade e emergência.
A ‘Semana Cáritas’ (16 a 23 de março), em contexto de caminhada para a Páscoa e em Ano Santo – Jubileu 2025, é uma oportunidade para exortar todos a participar na edificação do bem comum dasociedade através da Cáritas. E é oportunidade também para reconhecer e valorizar o empenho das muitas centenas de pessoas que se dedicam ao bem do próximo, salientando o ‘fogo’ do Amor-Cáritas que as anima e mobiliza.
A Cáritas tem uma identidade que lhe vem do Evangelho. “Jesus chamou os discípulos e disse: tenho compaixão desta multidão” (Mc 8,2). É necessário alimentar e manter este Amor de compaixão, o fogo interior que nos motiva e identifica como uma graça, uma vontade que nos supera. Neste sentido, os profissionais e os voluntários que trabalham na rede Cáritas representam todos os que fazem chegar o seu donativo económico para aplicar nos diversos projetos de apoio.
É oportuno salientar o esforço das Cáritas Diocesanas que têm valências de respostas sociais permanentes com acordos estabelecidos com a Segurança Social, onde os valores dos contratos dos mesmos são sempre inferiores ao volume das despesas. Todos os anos enfrentam a preocupação com a subida dos custos de funcionamento.
A Cáritas Portuguesa funciona também em rede com a Cáritas Internacional. Neste âmbito, na consciência de que cuidar da ecologia integral também é cuidar dos mais pobres, assumiu a campanha global TOGETHER WE/JUNTOS com a promoção de iniciativas de defesa da Casa comum, o planeta terra. Colaborou também com apoio para os refugiados de Cabo Delgado (Moçambique). Também com a coordenação da Cáritas Internacional, a Cáritas Portuguesa tem estado a contribuir com apoio à população ucraniana deslocada, por força da guerra, para Polónia, Roménia, Moldávia, República Checa, Eslováquia, Bulgária e Hungria.
Os cristãos são chamados a cultivar o amor generoso da caridade e este cuidado vem de longe. Como nos recordou o Santo Padre, o Papa Francisco, no passado mês de outubro: “É bom lembrar que no Império Romano muitos pobres, forasteiros e tantos outros descartados encontravam respeito, carinho e cuidado nos cristãos. Isto explica o raciocínio do imperador apóstata Juliano, que se perguntava porque é que os cristãos eram tão respeitados e seguidos, e considerava que uma das razões era o seu empenho na assistência aos pobres e forasteiros, já que o Império os ignorava e desprezava. Para este imperador, era intolerável que os pobres não recebessem ajuda de sua parte, enquanto os odiados cristãos «alimentam os seus, e também os nossos». Numa carta, insiste, em particular, na ordem de criar instituições de caridade para competir com os cristãos e atrair o respeito da sociedade: «Estabelece em todas as cidades alojamentos numerosos para que os estrangeiros possam gozar da nossa humanidade» (Dilexit nos 169).
A Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana reconhece o trabalho desenvolvido e conta com a rede Cáritas para continuar a promover o conhecimento, a proximidade e o apoio às situações de carência e emergência. É um testemunho de primordial importância. Assim, neste ano de Jubileu, tempo especial de graça que nos convida à transformação, fica o apelo à conversão interior, de modo que a compaixão de Cristo resida no coração de muitos, e o apelo à generosidade em donativos para que toda a rede Cáritas exerça a sua missão
José Traquina | Bispo de Santarém – Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana